Um Raio-X das mulheres no mercado de TI e outras minorias


Crédito: Shutterstock


    As mulheres ainda são minoria quando falamos em desenvolvimento de software, seja em um país subdesenvolvido como o Brasil (RIBEIRO et al., 2019) ou um país desenvolvido como os Estados Unidos (DUBOW, 2014). Esta é uma triste realidade evidenciada por diferentes pesquisas (DOS SANTOS, 2017, IZQUIERDO, 2018,  RIBEIRO et al. 2019). Porém, mais importante que quantificar esta realidade é entender o porquê desta discrepância se manter e quais medidas podem ser tomadas para corrigir estas disfunções.

    A consultoria Robert Half em parceria com o Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) divulgou uma pesquisa que mede a participação e a motivação de homens e mulheres em todos os níveis hierárquicos em diferentes postos de trabalho. O levantamento aponta que a área com maior predominância feminina é a de Bem-Estar com 88% das matrículas compostas por mulheres enquanto as áreas com menor representatividade feminina é Computação e Tecnologias da Informação com 13,3%. 


Figura 1 – Percentual de Mulheres em posição de liderança e governança no OpenStack. Os números nos parênteses são os totais em cada grupo.


Fonte: IZQUIERDO et al., 2018


A inserção no mercado de TI é uma dificuldade para outras minorias também. As Bigs Techs, Microsoft, o Google, o Twitter, o Facebook e a Apple, evidenciam que apenas 9% dos seus profissionais são negros. Esses são dados divulgados pela Revista Exame (2020). Infelizmente não possuímos dados de mulheres negras trabalhando em tecnologia, mas ao cruzar as informações de mulheres e negros, podemos esperar dados ainda mais desoladores.

A política de cotas raciais no Brasil foi um importante avanço para a inserção dos jovens negros nas universidades. Segundo dados divulgados pelo Quero Bolsa a partir do IBGE, o número de alunos negros no ensino superior cresceu quase 400%, entre 2010 e 2019, chegando a 38,15% do total de matriculados. Apesar disto, negros ainda são minorias nas empresas (CAIXETA, 2022). Isso demonstra que é preciso muito mais que acesso a educação para garantir a empregabilidade das minorias e principalmente o acesso a cargos de liderança.


 

Figura 2 - Pouco espaço para negros nas Big Techs


Fonte: Vitorio, 2020


As empresas privadas tem tomado iniciativas para incentivar o aumento de mulheres na TI. Um exemplo disso é o GFT Start Woman Java e o Banco Carrefour Woman Developer, ambos programas de bootcamp encubados na plataforma Digital Innovation. Apesar de muitas empresas estarem tomando consciência de que precisam ser ativas neste processo para a equidade de gênero, ainda existem muitas barreiras. O Linkedin, maior rede social de empregabilidade do mundo, constantemente impediu o anúncios de vaga para minorias. O Linkedin só passou a permitir a divulgação de vagas para minorias a partir de março de 2022, após se tornar alvo de ação civil pública da Educafro (BRIGATTI; ARCANJO, 2022).


----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------


Hoje o mercado de trabalho de TI é dominado por homens, mas sabia que nem sempre foi assim? Uma das grandes personalidades da história desta área é Ada L. considerada a primeira programadora. Veja um pouco mais da História dela aqui:

Ada Lovelace: quem foi, importância na tecnologia e curiosidades!


Veja Também o Papo de mulher com Bianca e Ana Laura falando dos desafios das mulheres no mercado de TI, desde a formação até o mercado de trabalho. Está muito interessante, dá uma conferida!



----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------


Apesar de boas iniciativas de empresas privadas, como pudemos ver acima, a participação das mulheres no mercado de TI ainda é tímido e parte disso é resultado de uma falta de políticas públicas para equidade de gênero. Primeiramente, deveríamos regulamentar um percentual mínimo de mulheres em concursos públicos, inspirado na legislação alemã. Também, assim como acontece com grande empresas que são obrigadas a contratar estagiários e jovens aprendizes, a legislação deveria ser alterada para incentivar a contratação de mulheres, negros e índios em empresas privadas, obrigando uma cota mínima dos mesmos. Por fim, a legislação poderia prever incentivos para cargos de lideranças para minorias prevendo incentivos fiscais para as empresas.

Apesar das estatísticas indicarem um desiquilíbrio entre gênero na área de TI, devemos considerar que há iniciativas sendo tomadas nestes últimos anos. Entretanto o caminho à equidade de gênero e raça ainda requer políticas públicas e legislações mais efetivas e, aliado a esta, necessitamos de um amplo debate com a sociedade no intuito de reconstruir uma maior participação de mulheres, pessoas negras e indígenas resultando numa sociedade mais igual, não como um favor concedido à minoria mas como reparação dos erros sociais cometidos no passado. 


Referências

BRIGATTI, Fernanda; ARCANJO, Daniela. LinkedIn recua e passa a permitir anúncios de vaga para minorias. Folha de São Paulo. Publicado em: 29 março 2022 às 15h59. Acessado Em: 15 de Abril de 2022

CAIXETA, Izabella. Brasil tem mais negros em universidades, mas eles são minoria nas empresas. Estado de Minas. Publicado em 21/03/2022 16:14. Atualizado em 22/03/2022 11:27. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/diversidade/2022/03/21/noticia-diversidade,1354302/brasil-tem-mais-negros-em-universidades-mas-eles-sao-minoria-nas-empresas.shtml. Acessado Em: 15 de Abril de 2022

DOS SANTOS, Wilk Oliveira. Mulheres na Computação: Uma análise da participação feminina nos cursos de Licenciatura em Computação. In: Anais dos Workshops do Congresso Brasileiro de Informática na Educação. 2017. p. 814.

EZ.DEVS. Papo de mulher - Mulher na área de ti. Youtube, 19 de jul. de 2019. Disponível em:  https://www.youtube.com/watch?v=4diFDUhVlJU. Acessado em: 16 de Abril de 2022.

HORN, Michelle. Ada Lovelace: quem foi, importância na tecnologia e curiosidades! Blog Betrybe. Publicado em: 14 de dezembro de 2020. Disponível em: https://blog.betrybe.com/tecnologia/ada-lovelace/. Acessado em: 15 de Abril de 2022.

IZQUIERDO, Daniel et al. Openstack gender diversity report. IEEE Software, v. 36, n. 1, p. 28-33, 2018.

Mulheres somam 22,5% dos cargos de liderança em TI. Portal Comunique-se. Publicado em: 21 de março de 2022. Disponível em: https://portal.comunique-se.com.br/272678-mulheres-somam-225-dos-cargos-de-lideranca-em-ti/.  Acessado em 15 de Abril de 2022. 

RIBEIRO, Laura et al. Um panorama da atuação da mulher na computação. In: Anais do XIII Women in Information Technology. SBC, 2019. p. 1-10.

VITORIO, Tamires. A desigualdade em números: brancos ainda são maioria nas big techs. Revista Exame. Publicado em: 20/11/2020 08:00. Última atualização em 19/11/2020 19:18. Disponível em: https://exame.com/tecnologia/a-desigualdade-em-numeros-brancos-ainda-sao-maioria-nas-big-techs/  Acessado em: 15 de Abril de 2022.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Sentimentos e Emoções na Engenharia de Software